31.8.07

A Rainha



“A Rainha” foi um filme que não tive oportunidade de ver quando estreou, com grande pena minha, mas finalmente já tenho o DVD e já pude comprovar aquilo que tinha sabido pelas criticas. Não é um romance, não é um filme de suspence com um enredo enorme e montes de personagens.

“A Rainha” é praticamente um documentário que vemos acerca da família real inglesa, há 10 anos atrás quando dois factores importantíssimos aconteceram. Primeiro, e o que despoletou toda esta situação, a morte trágica e inesperada de Diana.

(Nunca mais me esquecerei que estava em Vila Nova de Mil Fontes com uns amigos quando a Alberta Marques Fernandes apareceu na televisão a dizer que “notícia de última hora, a Princesa Diana tinha sido vitima de um grave acidente”... e eu comentei que devia de ter partido um braço, mas como era princesa...)

E depois, o que realmente dá origem a este filme. Tony Blair, o Primeiro Ministro Trabalhista recém eleito, que na altura ainda tinha ideais de pragmatismo e modernistas, e que após tantos anos na oposição ainda se sentia “do povo”. Tony Blair ganhou muitos pontos quando ao dar a notícia da morte de Diana se refere a ela como “A Princesa do Povo”.

Por outro lado a família real que se encontrava de férias em Balmoral preferiu remeter-se ao silêncio, não comentando o acontecimento, o que fez com que a sua queda de popularidade perante o povo que já andava tremida, descesse como nunca.

Blair teve aqui a sua grande golpada política ao empenhar-se em convencer a Rainha a mudar de atitude perante o acontecimento, fazendo-lhe sentir qual era a opinião do povo em relação a Diana e que ela só teria a ganhar se viesse “para a rua chorar” a morte de Diana junto com os seus subditos.

A História:
(cheia de considerações minhas)

E. portanto toda a estória da “historia” deste filme se desenrola no espaço de uma semana. A semana que se seguiu à morte de Diana em 31 de Agosto de 1997. Durante esses curtos dias Londres, Inglaterra e o mundo estiveram na expectativa do resultado da “batalha” que se travava entre a Família Real, hermética e conservadora e o Governo Britânico.

Helen Mirren, que veio a ganhar um Oscar pelo seu desempenho neste papel, está realmente fantástica, e irrepreensível neste papel. Os gestos, o andar, a postura, estão simplesmente perfeitos. Helen “ é “ a Rainha. O filme vai sendo intercalado com algumas imagens verdadeiras da altura aqui e ali, quando se justifica.

A morte da Diana foi um acontecimento que quer queiramos quer não, gostássemos ou não dela, mexeu com o mundo. Ela era uma mulher bonita, jovem e inocente que aprendeu à sua custa o que custava estar casada com o herdeiro do trono Britânico. A sua postura de mulher habituada a lidar e a conhecer os problemas dos homens e mulheres comuns levava-a a ter um tratamento simples e despreocupado o que contrastava e chocava com a frieza e distância da monarquia.

Diana disse NÃO e optou por viver a vida dela se nunca ter deixado de usar a sua fama e protagonismo para ajudar os pobres e os desfavorecidos. Mas como mulher normal que era e fazia questão de ser, o seu comportamento era sempre super vigiado pelos mídia o que fazia com que qualquer “passo em falso” fosse transformado num escândalo que incomodava a Rainha e a casa Real.

Por isso que ainda hoje resta a dúvida se a morte dela foi um triste acidente causado pela perseguição dos papparazzi ou se ela pura e simplesmente foi eliminada para deixar de perturbar a paz podre da família real.

Mas será que podemos culpar a Rainha por se sentir tão incomodada com o facto de Diana existir? Essa questão fica no ar neste filme. Afinal a Rainha foi criada para ser uma mulher de comportamento irrepreensível, ela não sabe ser de outra forma. O grande erro dela foi não se ter apercebido que não foi só o mundo em geral que mudou à sua volta mas os seus súbditos em particular também mudaram e exigem tolerância e compreensão da parte dela. E neste caso muito particular os súbditos queriam que a Rainha fizesse e partilhasse do seu luto.

O realizador deste filme, Stephan Frears teve o cuidado de não ser demasiado parcial, ele tenta demostrar o que se terá passado sem tomar grandes partidos, ele tenta mostrar os dois lados da questão, dum lado a família Real, que sem compreender bem a dimensão do mediatismo do acontecimento, apenas pensa que Diana já não pertence à família Real após o divórcio e pretende que ela tenha um funeral privado, sem qualquer comunicado da casa real.

Do outro o Governo Britânico e o povo inglês que “exigem” honras de membro Real. É preciso não esquecer que ela é a mãe do futuro Rei de Inglaterra. Perante a pressão dos media e da população, Blair decide ajudar a rainha a salvar-se dela mesma. Blair tenta fazer ver à Rainha que ela TEM que fazer uma declaração pública, ao que a Rainha se tenta “defender” dizendo que as declarações públicas apenas se fazem quando acontece algum facto extraordinário, e ela não considera que a morte de Diana “a Princesa dos escândalos” (palavras minhas mas que de certeza terão sido pensamentos dela) seja um desses factos.

Outra coisa que chocou o povo foi o facto de a Rainha estar em Balmoral e não regressar de imediato ao Palácio assim como a Bandeira de Buckingham e de todos os outros organismos oficiais não se encontrar a meia haste. Era “obrigatório” para o povo inglês que isso acontecesse.

“Humildade ou humilhação?”, pergunta a Rainha em determinada altura a Blair quando ele a confronta com essa necessidade de ser humilde perante o seu povo. “Pode o velho reger o novo sem ser deposto ou substituído?”, é o dilema que ela se depara com a subida do líder do Partido Trabalhista Tony Blair ao cargo de Primeiro Ministro, terminando com a dinastia conservadora no poder. (Se ele tempos mais tarde se deixa deslumbrar pelo poder e se torna também mais conservador do que liberal, já faz parte de outra guerra...)

Para mim a cena mais fantástica deste filme e que obviamente não se terá passado, mas que define a meu ver duma forma sublime a Rainha Isabel II e a sua postura perante o que se passou, é uma cena em que a Rainha é obrigada a parar por causa duma avaria no Jipe e vê um veado... ela fica a olhar para o veado com um olhar de admiração.

Pouco tempo depois ela é informada que o veado foi encontrado morto..., ela está nos seus terrenos em Balmoral e inexplicavelmente fica notoriamente nervosa e acaba por disfarçar algum choro. Faz questão de ir ter com o caseiro para ver o veado morto e ao olhar para o animal diz: “Espero que não tenha sofrido muito” e afasta-se com um ar perturbado.

Esta cena para mim demonstra a confusão de sentimentos em que a Rainha vive e a forma como ela está a baralhar as suas emoções... A Rainha elogia e gaba o animal, deslocando-se pessoalmente para o ver morto, mas não demostra qualquer tipo de emoção pelo desaparecimento de Diana, sua ex-nora e mãe dos seus netos, recusando-se até a regressar a Buckingham e a interromper as suas férias por causa disso.

Li algures que Anthony Lane, repórter da da revista "The New Yorker", teve uma frase magistral para definir este filme. O cabeçalho da sua coluna era: «A Rainha», o novo filme de Stephen Frears: "O seu tema é o choque de vontades entre Sua Majestade a rainha Isabel II, e Tony Blair, o primeiro-ministro do governo de Sua Majestade. Ou, se preferirem, Alien vs. Predador".

Sem qualquer reparo.... fantástico título este que tão bem define este filme.

2 comentários:

Anabela, Lara e Miguel disse...

eu pessoalmente nao gostei muito do filme....

:)

lolll

Pepe Luigi disse...

Foi um dos filmes que mexeu comigo.